sábado, 13 de março de 2010

Querido Diário

A pedido de Ana Laura, aluna de Araraquara, revirei os arquivos para encontrar essa antiga crônica, publicada originalmente em agosto de 1999,  que fala sobre meu hábito de "cadernões". Ela está interessada em começar essa prática que adoto desde 1995.





Querido Diário


Esta semana (14 de agosto de 1999), quero revelar para vocês o que escrevo em meu diário. 


Toda manhã sento-me em minha mesa de trabalho e, serenamente, escrevo o cabeçalho: Três Pontas, o dia da semana e a data. Tudo com capricho e por extenso. Este simples ato repetido diariamente me dá um sentimento de ordem, ponho os pés no chão e traço um roteiro dos afazeres do dia. Anoto também as idéias, projetos e pequenos acontecimentos da vida diária.


O ponto alto fica por conta das afirmações. São pequenos textos ou frases  positivas que me ajudam a reprogramar 'neurolinguisticamente' a minha incrível tendência à negatividade: "Hoje é outro dia precioso sobre a Terra. Vamos vivê-lo com alegria." Esta é uma das minhas afirmações preferidas para escrever logo abaixo do cabeçalho.


Às dez horas, ainda pela manhã, torno a me sentar e faço outra pequena pausa. Escolhi este horário juntamente com minha mãe e irmãs. Assim, como moramos muito distantes umas das outras, estaremos momentaneamente juntas. Chamamos  este encontro de "A hora do Anjo". Nele, pensamos na nossa família e, de um  pequeno baralho com desenhos de anjos e qualidades escritas, retiramos o "Anjo do dia". Hoje saiu "O Anjo da Bondade" que traz a afirmação:"Sou uma fonte livre e imensamente poderosa de vida e bondade."  Medito sobre ela e procuro trazê-la para  enriquecer o meu dia. Fecho com uma oração, pedindo ao Anjo da Guarda de nossa família que zele por nós.


Pequenas pausas, principalmente com hora marcada, são especiais para nos tirar do frenesi diário e criar um movimento contrário à solicitação externa. Nesses tempos de vitrines, Tevês e outras coisas que nos levam a estar com a atenção fora de nós por mais tempo é sempre bom olhar um pouquinho para dentro.


Outra pausa que admiro é a harmonização antes das refeições. Um momento de silêncio já basta. Se vier acompanhado de um verso ou de uma oração, melhor ainda. Aqui em casa, quando temos crianças à mesa, cantamos:  "Terra que os frutos nos deu, Sol que os amadureceu. Nobre Terra, nobre Sol, jamais os esqueceremos."  Estes versos de Christian Morgenstern já receberam diversas melodias. Eu tenho a impressão de que esta pausa antes do  - atacar! - influencia até na preparação da saliva e do suco gástrico. É o silêncio e a atenção facilitando a digestão e ordenando a vida.


Estou partilhando,com vocês, estas coisas do meu cotidiano, porque elas ajudam-me a  manter o equilíbrio e tentar   permanecer  saudável e criativa.


Espero que a minha experiência possa inspirá-los a procurar meios de estar sempre melhor.